03/02/10

Reflexões

'Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
[...]

De tanto ser, só tenho alma
Quem tem alma não tem calma.
[...] .'


Como Pessoa, esta instabilidade tem a ver com a vida e não com 'almas'. Enquanto Pessoa se expressa com diversas vozes, eu expresso-me de diversas maneiras e, neste momento, já não me conheço nem conheço nada que me rodeia porque vivo num Mundo capaz de muitas coisas mesmo impressionantes tanto para o lado negativo como para o positivo. Isto torna-me uma pessoa estranha em relação à vida...
'De tanto ser, só tenho alma'. Digamos que a vida, apartir de um momento, começa a ser toda pensada e não sentida. Aqui temos explícito a renúncia às emoções... Seria o Mundo um lugar triste se não houvesse emoções? Sim, mas às vezes é melhor não tê-las do que tê-las e sofrer constantemente.
Pensar é mau e se for na vida ainda pior... Como o grande Mestre Caeiro diz 'pensar é estar doente dos olhos'.
'Quem tem alma não tem calma' resumindo: Quem pensa, não tem tranquilidade. Pensar é algo pesado e, por vezes, é algo mesmo desconfortável!

Digo que morri para o mundo e que já não o sinto. Ou melhor, sinto... Sinto uma vida que já não dá para ser vivia por mim. A esperança de viver está constantemente a perder-se.

Alguma coisa relacionada com algo...

Sorte... o que é isso? Fortuna? Ah! São sinónimos.
Designar alguém que tem a sorte consigo? Sortudo... Mas isso é uma palavra tão brilhante e não, não está comigo está acima de mim mas sou pequena e não chego. 'Chegas se te esforçares!!', dizem-me, mas eu esforço-me... Apenas a minha Sorte, sempre que estou perto, é levada por uma rajada de vento antes do tempo e eu sou obrigada a continuar a andar em passos curtos no grande deserto que é a minha vida.
É... A minha vida é um grande deserto onde não há nada e só raramente aparece algo para me ou para eu amparar. Mas como quase nada no deserto sobrevive, continuo o meu caminho sózinha à espera que apareçam mais viajantes no meu deserto.
Sou uma raposa do deserto. O vazio das dunas são o meu obstáculo.
A minha vida, desde à muito que não sofre grandes alterações e, por isso, ainda sou a raposa do meu deserto.
Qual é o meu objectivo nesse deserto? Encontrar a saída? Não, isso é nos labirintos...
No deserto há muitas saídas para o nada mas, nesse nada, pode haver algo para cavar, por isso, cavo.
Tenho areia a cair-me constantemente mas sou persistente e continuo a cavar.
Engraçado... Ao caminhar no deserto e a encontrar viajantes, como eu, encontrei um lugar onde me fixar.
Só tenho que cavar. Essa é a minha fortuna. Cavar. E se areia continuar a cair-me em cima, continuo a cavar até encontrar o que quero e se no final não acontecer nada, então partirei e continuarei a andar no deserto, a ajudar viajantes que por mim passam e cavar fortunas em diversos lugares do deserto.

O deserto tem tantos segredos a revelar do passado como uma vida tem segredos a descobrir do futuro.